De 28 a 30 de maio acontece o X Congresso Regional Intercom Sul, em Blumenau/SC. O evento propõe discutir assuntos da área da comunicação e, nessa edição, tem como tema Comunicação, educação e cultura na era digital.
Um grupo de alunos e professores da comunicação da UCS vai estar lá. Em breve, traremos mais informações sobre o evento aqui no blogue.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
quinta-feira, 21 de maio de 2009
A cegueira no Brasil
Criticar a sociedade do século 21, a partir de uma situação hipotética ocorrida num passado não muito distante. A meu ver, é disso que trata o filme Ensaio sobre a cegueira. A obra é magnífica, do ponto de vista de quem procura ali uma análise da sociedade atual.
O filme mostra a história de uma cidade que vive uma epidemia de cegueira. Os cegos são enclausurados num prédio, que não tem condições de abrigar as centenas de pessoas que foram enviadas pra lá. Não há, em nenhum momento, proteção dos governantes que se preocuparam apenas em isolar os “doentes”. No filme, a única intervenção do governo se dá com o envio de alimentos (limitados) e a segurança (ou isolamento) do local. As pessoas ficam ali esquecidas, como se fossem, além de cegos, invisíveis.
O filme leva o espectador brasileiro a lembrar a situação de segregação que acontece hoje no Rio de Janeiro*. Além disso, Ensaio sobre a Cegueira joga com sentimentos que vão além do amor e ódio: gratidão, asco e medo são apenas alguns deles. É interessante ver que na nova “moradia”, as pessoas são obrigadas a viver o coletivo. Algo difícil de se pensar hoje, quando vivemos com grande incentivo ao individualismo.
Não li a obra de Saramago, na qual o filme se inspira, mas fiquei com vontade, porque os sentimentos que o filme proporciona devem ser ainda mais aguçados com a leitura do livro. Mas, com o filme, já vale a reflexão: quem são os invisíveis de hoje no Brasil? Quem são os que ficam isolados, esquecidos, sem condição nenhuma de progredir? Quem são aqueles que sequer são ouvidos?
* "Seja na cidade do Rio, em Duque de Caxias, em Macaé etc, o discurso do choque de ordem bota abaixo sem discussão a história, a cultura, a vida das pessoas, antes que se possa argumentar com a lógica, com o bom senso. Exatamente o que fazia a ideologia do nazi-fascismo. Parece exagero, mas esse discurso – e sua prática sumária – é uma prima de primeiro grau dos linchamentos de mendigos, da queima de índios nos pontos de ônibus, das surras em prostitutas na madrugada. Tudo em nome da “ordem”, da “limpeza” das ruas, do “ordenamento”, da “organização”, da assepsia, do “bom visual”. [...]
Porque afinal de contas, essa política também é extremamente covarde: primeiro baixamos o cacete nos informais, nos malditos camelôs, nos biscateiros ilegais que atravancam o progresso do país... Depois, se der tempo, podemos desconcentrar a renda, fazer reforma agrária, prender os corruptos e fazê-los devolver o dinheiro, essas coisas. Depois. Agora não. O valente só é valente em relação ao mais fraco. Qualé, choque?..."
(trecho de texto publicado em março, no portal Overmundo)
* Sobre o assunto, ver também portal Inverta
..
.
O filme mostra a história de uma cidade que vive uma epidemia de cegueira. Os cegos são enclausurados num prédio, que não tem condições de abrigar as centenas de pessoas que foram enviadas pra lá. Não há, em nenhum momento, proteção dos governantes que se preocuparam apenas em isolar os “doentes”. No filme, a única intervenção do governo se dá com o envio de alimentos (limitados) e a segurança (ou isolamento) do local. As pessoas ficam ali esquecidas, como se fossem, além de cegos, invisíveis.
O filme leva o espectador brasileiro a lembrar a situação de segregação que acontece hoje no Rio de Janeiro*. Além disso, Ensaio sobre a Cegueira joga com sentimentos que vão além do amor e ódio: gratidão, asco e medo são apenas alguns deles. É interessante ver que na nova “moradia”, as pessoas são obrigadas a viver o coletivo. Algo difícil de se pensar hoje, quando vivemos com grande incentivo ao individualismo.
Não li a obra de Saramago, na qual o filme se inspira, mas fiquei com vontade, porque os sentimentos que o filme proporciona devem ser ainda mais aguçados com a leitura do livro. Mas, com o filme, já vale a reflexão: quem são os invisíveis de hoje no Brasil? Quem são os que ficam isolados, esquecidos, sem condição nenhuma de progredir? Quem são aqueles que sequer são ouvidos?
* "Seja na cidade do Rio, em Duque de Caxias, em Macaé etc, o discurso do choque de ordem bota abaixo sem discussão a história, a cultura, a vida das pessoas, antes que se possa argumentar com a lógica, com o bom senso. Exatamente o que fazia a ideologia do nazi-fascismo. Parece exagero, mas esse discurso – e sua prática sumária – é uma prima de primeiro grau dos linchamentos de mendigos, da queima de índios nos pontos de ônibus, das surras em prostitutas na madrugada. Tudo em nome da “ordem”, da “limpeza” das ruas, do “ordenamento”, da “organização”, da assepsia, do “bom visual”. [...]
Porque afinal de contas, essa política também é extremamente covarde: primeiro baixamos o cacete nos informais, nos malditos camelôs, nos biscateiros ilegais que atravancam o progresso do país... Depois, se der tempo, podemos desconcentrar a renda, fazer reforma agrária, prender os corruptos e fazê-los devolver o dinheiro, essas coisas. Depois. Agora não. O valente só é valente em relação ao mais fraco. Qualé, choque?..."
(trecho de texto publicado em março, no portal Overmundo)
* Sobre o assunto, ver também portal Inverta
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quarta-feira, 13 de maio de 2009
Quando o essencial fica em segundo plano
Hoje, muitas pessoas no mundo todo dizem que o caso da escocesa Susan Boyle, o mais novo fenômeno midiático, é um exemplo de que "as aparências enganam". No entanto, o que engana mesmo é a falsidade humana e a sua capacidade de ser hipócrita o bastante a julgar pelas aparências. Não deveria o ser humano ser tão cretino a ponto de acreditar que somente os chamados "belos" são altamente capazes de realizar grandes façanhas.
Em crônica publicada no fim do mês de abril, no diário Correio do Povo, o jornalista gaúcho Juremir Machado analisa o caso de Susan Boyle e questiona a inversão de valores da sociedade atual. Como Susan é feia, do ponto de vista estético padrão, foi inicialmente rechaçada pela opinião pública que lotava o auditório no qual um programa musical estava sendo gravado, no Reino Unido.
As pessoas colocaram em primeiro lugar a análise fútil do ser humano, aquela mesma que muitos fazem no dia-a-dia, valorizando mais a roupa ou o cabelo, ao invés do conteúdo de cada pessoa.
Diferente do que afirma Juremir, é possível acreditar que o povo brasileiro não é tão "evoluído" assim. Pra ele, o fato de a TV brasileira ter pessoas "gordas" e "feias" (Raul Gil, Hebe Camargo, Gugu) mostra o lado humano dos brasileiros. No entanto, o jornalista esqueceu de citar que Xuxa, Angélica, Luciano Huck e Eliana, são "belos", também fazem sucesso e não têm tanto conteúdo.
Aliás, os que Juremir chama de "gordos" e "feios" são os mesmos que na sua programação distribuem prêmios, casas, cestas básicas e afins, com o objetivo de conquistar a audiência, porque conteúdo também não têm. Então, todos são competentes o bastante pra promover ainda mais a exclusão social, ao invés de oferecer formação pra cidadania.
Aos olhos de quem é preconceituoso, Susan Boyle tem "uma qualidade": ela canta bem; aos olhos de quem aposta na força humana, independente da beleza estética, ela é um ser humano completo, cheio de vida e potencialidades, capaz de transformar tudo o que está à sua volta, assim como todos o são. Essa é a mesma mensagem trazida por Antoine de Saint-Exupéry, na obra O Pequeno Príncipe, quando diz que "o essencial é invisível aos olhos".
Em crônica publicada no fim do mês de abril, no diário Correio do Povo, o jornalista gaúcho Juremir Machado analisa o caso de Susan Boyle e questiona a inversão de valores da sociedade atual. Como Susan é feia, do ponto de vista estético padrão, foi inicialmente rechaçada pela opinião pública que lotava o auditório no qual um programa musical estava sendo gravado, no Reino Unido.
As pessoas colocaram em primeiro lugar a análise fútil do ser humano, aquela mesma que muitos fazem no dia-a-dia, valorizando mais a roupa ou o cabelo, ao invés do conteúdo de cada pessoa.
Diferente do que afirma Juremir, é possível acreditar que o povo brasileiro não é tão "evoluído" assim. Pra ele, o fato de a TV brasileira ter pessoas "gordas" e "feias" (Raul Gil, Hebe Camargo, Gugu) mostra o lado humano dos brasileiros. No entanto, o jornalista esqueceu de citar que Xuxa, Angélica, Luciano Huck e Eliana, são "belos", também fazem sucesso e não têm tanto conteúdo.
Aliás, os que Juremir chama de "gordos" e "feios" são os mesmos que na sua programação distribuem prêmios, casas, cestas básicas e afins, com o objetivo de conquistar a audiência, porque conteúdo também não têm. Então, todos são competentes o bastante pra promover ainda mais a exclusão social, ao invés de oferecer formação pra cidadania.
Aos olhos de quem é preconceituoso, Susan Boyle tem "uma qualidade": ela canta bem; aos olhos de quem aposta na força humana, independente da beleza estética, ela é um ser humano completo, cheio de vida e potencialidades, capaz de transformar tudo o que está à sua volta, assim como todos o são. Essa é a mesma mensagem trazida por Antoine de Saint-Exupéry, na obra O Pequeno Príncipe, quando diz que "o essencial é invisível aos olhos".
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terça-feira, 5 de maio de 2009
Ops!
Diferente do que informei na postagem anterior, a Lei de Imprensa é de 1967.
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segunda-feira, 4 de maio de 2009
Comunicação é direito de todos
Os meios de comunicação eletrônicos (rádio e televisão) são um serviço público. Por isso (é importante que todos saibam!), não tem donos, mas são concessões temporárias. Essas permissões podem ou não ser renovadas pelo Poder Público, após determinado período.
Como todo serviço público, os meios de comunicação também deveriam estar a serviço da população brasileira, nesse caso, com a oferta de programação de qualidade. Além disso, deveriam ser abertos à participação popular, pois todos têm o direito de se expressar através desses serviços.
Em contraponto a essa definição, o que se vê hoje é uma mídia que tem o poder de selecionar e criar suas pautas, podendo, assim, incluir na programação apenas aquilo que lhe interessa. Mas, será que essa programação é mesmo aquela que a população quer ver? Numa dessas manhãs de outono discutíamos na universidade esse problema e não chegamos a nenhuma definição. O que sei é que a comunicação é um direito humano e dela todos devemos nos beneficiar. Com ela, devemos (deveríamos, pelo menos) ter crescimento e aprendizagem.
Penso nessas questões após ver revogada a Lei de Imprensa, que perdurava desde 1969, e depois ter assistido ao vídeo A revolução não será televisionada. Essa produção irlandesa mostra a participação da mídia na frustrada tentativa de golpe na Venezuela em abril de 2002.
Por fim, penso que é preciso ficar atentos à comunicação no País e fazer dela um pilar para o crescimento e desenvolvimento da sociedade, independente dos interesses pessoais dos políticos, dos empresários, dos malandros, dos bundões, ... Mas, isso é assunto pra outra postagem.
Como todo serviço público, os meios de comunicação também deveriam estar a serviço da população brasileira, nesse caso, com a oferta de programação de qualidade. Além disso, deveriam ser abertos à participação popular, pois todos têm o direito de se expressar através desses serviços.
Em contraponto a essa definição, o que se vê hoje é uma mídia que tem o poder de selecionar e criar suas pautas, podendo, assim, incluir na programação apenas aquilo que lhe interessa. Mas, será que essa programação é mesmo aquela que a população quer ver? Numa dessas manhãs de outono discutíamos na universidade esse problema e não chegamos a nenhuma definição. O que sei é que a comunicação é um direito humano e dela todos devemos nos beneficiar. Com ela, devemos (deveríamos, pelo menos) ter crescimento e aprendizagem.
Penso nessas questões após ver revogada a Lei de Imprensa, que perdurava desde 1969, e depois ter assistido ao vídeo A revolução não será televisionada. Essa produção irlandesa mostra a participação da mídia na frustrada tentativa de golpe na Venezuela em abril de 2002.
Por fim, penso que é preciso ficar atentos à comunicação no País e fazer dela um pilar para o crescimento e desenvolvimento da sociedade, independente dos interesses pessoais dos políticos, dos empresários, dos malandros, dos bundões, ... Mas, isso é assunto pra outra postagem.
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