sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Marcha pela mudança


“Caminhando e cantando e seguindo a canção. Somos todos iguais, braços dados ou não...” Mesmo não sendo uma música oficial do Fórum Social Mundial, esse foi o tom da marcha de abertura do evento, na tarde desta terça-feira. As ruas de Belém se transformaram num diferente mar, de cores diversas, pelo qual passaram quase cem mil pessoas. O mais legal foi ver a multidão animada debaixo de um temporal de verão. A força dos participantes do fórum mostra claramente que, a partir da movimentação popular, é possível fazer um outro mundo.

O trajeto levou mais de três horas pra ser percorrido. Já na concentração, na Escadinha do Cais do Porto, as delegações davam demonstração de respeito, organização e determinação. Dentre os participantes, o grupo de defesa dos direitos das mulheres, dos negros, dos trabalhadores e dezenas de outros. Algo que chamou a atenção foi a presença de milhares de índios, de diferentes países das Américas. O grupo pedia respeito à demarcação de suas terras e maior valorização da cultura indígena. Nada mais justo, já que estamos na Amazônia.

A população de Belém parou para assistir as manifestações. Por onde passava a marcha, era possível ver em cada rosto, expressões diferentes, às vezes de surpresa, às vezes de espanto, ou ainda aqueles que através de seu olhar mostravam apoio à mobilização.

A chuva parou após a primeira hora da marcha e deu lugar a um sol intenso. Presente dos deuses? Creio que não, porque aqui chove todos os dias e o calor forte vem logo depois. O certo é que o sol brilhou pra todos, numa demonstração de que ele não nasceu pra poucos. Não nasceu, mesmo.

Belém, PA. Quarta-feira, 28 de janeiro, 23h51min.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Aprendizagem nas diferenças

“Égua, mas que calorão nessa cidade”. É, além de estarmos nos habituando ao local, já captamos algumas expressões típicas. “Égua” equivale ao “tchê” dos gaúchos, mas é usada com muito mais freqüência e intensidade. Chegamos em Belém por volta das seis horas da tarde de domingo. Junto, uma delegação de Belo Horizonte. Já havíamos encontrado o mesmo grupo em um posto de gasolina no Tocantins, no sábado à noite. A presença dos estudantes/militantes nos dá mais ânimo e força. Agora, percebemos mais claramente que não estamos sozinhos na caminhada.
No colégio Marista Nazaré serão hospedadas mais de 500 pessoas. Já estão conosco as delegações de Goiás, Tocantins, Ceará, Paraíba e outros que ainda não sei de onde vieram, além dos mineiros, claro.
A animação das turmas contagia o lugar e torna a estadia bastante agradável. Sabemos que os próximos dias prometem ser tri legais, ou no bom jeito mineiro: “bom dimais da conta”.

Belém, PA. Segunda-feira, 26 de janeiro, 13h37min.

Eita, Brasilzão!





Quem disse que o Brasil é grande não tava mentindo. Hoje, depois de 84 horas de viagem, já passamos por sete estados: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Maranhão. Mas o país não é grande só geograficamente, não. É grande também nas belezas. Modestamente, digo que a riqueza do Brasil pode até ser medida, mas não da maneira que deveria. Se tu tiveres oportunidade de conhecer outros lugares, investe, porque as pessoas que tu vais encontrar serão bastante cordiais. Pelo menos assim foram com nosso grupo de “turistas gaúchos”.
Nos diferentes rostos, quase sempre encontramos um sorriso colorido e caloroso, que fez com que afirmemos que vale a pena lutar (sim!) por uma sociedade melhor, para todos. As cores da cidade, misturadas com o verde das matas nativas fazem com que o Brasil seja, cada vez mais, visto por mim como um país abastado. Esta riqueza humana e natural são fundamentais para que tenhamos dias melhores, com mais justiça, igualdade e paz, como todos sonhamos. É no rosto de cada trabalhador e de cada trabalhadora que vejo a ânsia pra que estes dias cheguem logo.
No sábado de manhã, mais três lutadores se juntaram ao grupo: o Dirceu Fumagalli, a Dailir da Silva e o Antônio Canuto, todos da Comissão Pastoral da Terra, de Goiânia. Ah, o Canuto é natural do “município” de Galópolis, em Caxias. Com eles, temos mais força pra caminhada.

Açailândia, MA. Domingo, 25 de janeiro, 9h30min (agora não mais pelo horário de Brasília)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Os exemplos que vêm de fora


O Fórum Social Mundial é um “espaço aberto à reflexão, discussão de idéias e formulação de propostas que se opõe ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer outra forma de imperialismo”. Este é um dos conceitos que constam na Carta de Princípios do FSM, indispensável para aqueles que dele queiram participar. Como é aberto à diversidade de gênero, etnias e culturas, a possibilidade de encontrar estrangeiros é grande. Para nosso grupo, essa chance veio cedo.
Elisabeth, Franziska, Michelle e Christoph vieram da Alemanha em julho de 2008. Moram em Porto Alegre, Cachoeira do Sul e Lajeado, e nestes municípios desenvolvem trabalhos em bairros carentes, nas áreas de cidadania, direitos humanos, consumo consciente, etc. A Geraldine veio da Argentina há alguns anos, pra morar em Santa Maria e trabalhar na assessoria de comunicação do Projeto Esperança/Cooesperança.
A Franziska contou que veio de um município de pouco mais de seis mil habitantes, localizado no sul da Alemanha. No Brasil, descobriu alguns conceitos e princípios que, segundo ela, vai levar para a vida toda, como valorizar as pequenas atitudes do dia-a-dia, sejam elas de afeto ou perseverança. E isso ela aprendeu com os pequenos agricultores com os quais trabalha. A atividade, da qual participa como monitora, propõe uma produção agrícola 100% orgânica, mas isso é algo difícil de ser alcançado num município como Santa Cruz, por exemplo, no qual o fumo é usado em larga escala, como inseticida. Por isso, é feito um trabalho de conscientização com os jovens, para que eles sejam os protagonistas de uma mudança de atitudes para se tentar um futuro diferente da atual realidade. Pode parecer um trabalho de formiga, mas é aos poucos que se começa!
Ah, de quebra aprendi com os alemães a minha primeira frase (consciente) na língua deles: “gib mir meinen rucksack, bitte”. Sei que não vai servir pra muitas ocasiões, mas já ajuda na comunicação dentro desse ônibus, que já tá virando um cortiço, numa diferente releitura de Aluísio Azevedo hehehe.

Porangatu, GO (ou já no Tocantins, não sei). Sábado, 24 de janeiro, 18h05min.

Dois homens de força


A excursão (sim, estamos de ônibus) é organizada pelo Projeto Esperança/Cooesperança, de Santa Maria. Saímos do coração do Rio Grande perto das nove da noite de quarta-feira, dia 21. O grupo tem, hoje, quarenta e três pessoas. Outras três vão embarcar em Goiânia, daqui dois dias.
Na primeira tarde da viagem, conheci um pouco da história de dois caras fantásticos: o Edson e o Clóvis participam do Projeto há mais de sete anos. O Clóvis disse que precisou de apoio psicológico depois que seu filho de cinco anos morreu, por problemas no coração. O Edson tem uma história também difícil, que mostra a capacidade de superação que todos temos.
Os dois se encontraram nas atividades do Cooesperança e hoje estão entusiasmados com a viagem. Pretendem mostrar seus trabalhos em artesanato e conhecer novas técnicas, em Belém. Ainda não defini o que mais me chamou a atenção neles: a simplicidade, a força nas palavras ou a vontade de viver que mostram.

Marília, SP. Quinta-feira, 22 de janeiro, 18h07min.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Em busca de um “outro mundo possível”

Escrever é um desafio diário que nos mostra o quanto somos capazes de nos superar. Mostrar o teu texto, os teus rabiscos, pra outros, significa colocar à prova as tuas crenças. Parece pouca coisa pra ti? Pois bem, pra um jovem adulto que acredita num mundo diferente desse que hoje temos, não é não. Isso porque escrevo blogue ao invés de blog, não costumo usar roupas "de marca", e gosto bastante de andar na contramão da maioria que faz questão de ser e/ou estar alienada.

De qualquer forma, a partir de hoje, tu podes acompanhar nesse espaço, algumas das idéias que tenho sobre o mundo. Os assuntos, pretendo, serão os mais variados: política, meio ambiente, educação, esporte e outros. Todos eles, claro, com um viés social bastante acentuado. Isso porque acredito na viabilidade de um outro mundo, no qual as pessoas valorizam mais e praticam (de verdade, e para todos) a justiça, a fraternidade e o amor.



Pra começar, trago alguns escritos sobre uma grande experiência: participar do Fórum Social Mundial. Desde o dia 21 de janeiro, quarta-feira, tô na estrada com um grupo de mais de quarenta pessoas rumo à Belém, no Pará. Tá curioso pra saber quem é esse grupo? Quer saber o que tá acontecendo nessa viagem que muitos vão chamar de "maluca"? Acompanha este blogue. Os textos que virão serão feitos pra nós, que acreditamos neste "outro mundo".

Conselheiro Mairinck, PR. Quinta-feira, 22 de janeiro, 15h.

Fórum Social Mundial 2009

Fórum Mundial Mídia Livre